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17 de mai. de 2010

CENTENÁRIO DO RÁDIO

                                                           O CENTENÁRIO DO RÁDIO





No dia 12 de dezembro de 1901, o cientista italiano Guglielmo Marconi inaugurava gloriosamente a era das telecomunicações de longa distância por ondas de rádio. É uma data com um enorme significado histórico, pois foi nela em que se estabeleceu, pela primeira vez, comunicação pelo éter entre dois continentes. Um sinal de rádio foi enviado de Poldhu, em Cornwall, na costa oeste da Grã-Bretanha, para St. John, em Newfoundland, no Canadá, atravessando quase que instantâneamente 3.000 km sobre as águas e a atmosfera gelada do Atlântico Norte. Marconi estava em Newfoundland, e ouviu os três pontos típicos do código Morse para a letra "s".

Marconi declarou para a imprensa: "Confirma-se o fato no qual acreditei por tanto tempo: não existe distância na Terra que as comunicações para o rádio não possam conquistar". Ele tinha derrotado as previsões de outros cientistas, que afirmavam que as ondas de rádio, que caminham em linha reta desde o seu ponto de emissão, nunca poderiam alcançar outros pontos localizados a grandes distâncias na superfície da Terra, devido à sua curvatura. Este é o chamado "problema da linha de visada", ou seja, os dois pontos entre os quais se vai fazer a transmissão precisam estar situados na mesma linha reta de visão. É por isso que existem tantas antenas enormes em cima de morros, prédios, etc.: quando mais alta for a antena de transmissão, mais longe ela consegue alcançar com seu sinal. Uma linha de transmissão terrestre pode ser construida, portanto, colocando antenas de retransmissão a distâncias regulares umas das outras, e passando o sinal entre elas. O problema é que isso não dá para fazer nos mares e oceanos e em muitos outros lugares inóspitos da Terra.





Marconi resolveu o problema de uma forma muito simples (mas de resultados imprevisíveis para a época): usando uma freqüência e potência adequadas de transmissão, as ondas de rádio são enviadas pela antena em direção à uma camada da atmosfera chama ionosfera, contra a qual se refletem, descendo novamente em direção à Terra. Como a camada refletora está entre 90 a 320 km de altitude, um simples cálculo geométrico mostra que uma única reflexão é capaz de enviar o sinal a até 5 a 15 mil km de distância. A proeza pode ser prolongada à distância que quisermos, construindo uma estação repetidora no solo, que recebe este sinal e o reenvia para a ionosfera em um novo salto.

A ionosfera tem esse nome pois tem uma alta proporção de átomos de gases ionizados, ou seja, eletrificados através da perda ou ganho de elétrons. As radiações solares são responsáveis por essa ionização, portanto a altitude e capacidade refletiva da ionosfera varia de acordo com a hora do dia (é por isso que as estações de rádio podem ser ouvidas melhor e mais longe à noite do que de dia) e com as condições solares. As erupções solares de radiação eletromagnética que ocorrem periodicamente provocam grandes distúrbios nas radiocomunicações terrestres, por causa disso. Outra coisa: as ondas de rádio usadas para propagação celeste precisam ser de uma determinada faixa de freqüência, que é o número de vezes por segundo que a onda de rádio muda de amplitude. Elas podem ser classificadas, de acordo com essa banda, ou faixa de freqüências, em VLF ("Very Low Frequency"), HF ("High Frequency"), VHF ("Very High Frequency") e UHF ("Ultra High Frequency"). Apenas as ondas de freqüência mais elevadas (que eram chamadas de ondas curtas, como se lembram os entusiastas da escuta de rádio) é que podem ser refletidas dessa maneira, por isso quando uma estação de rádio deseja ter alcance mundial, como a BBC, ou a Voz da América, elas utilizam transmissores superpotentes de ondas curtas. É necessário que o receptor de rádio utilizado seja capaz de receber essas freqüências também, e na minha juventude um rádio de ondas curtas era um objeto de desejo dos adolescentes, tanto quanto um videogame de última geração, hoje em dia. Existe também um limite superior de freqüência para que ocorra a reflexão atmosférica, que pode variar 10 a 50 MHz, dependendo das condições de propagação, e que é chamado de MUF ("Maximum Usable Frequency").

Nesta semana, o mundo todo está prestando suas homenagens a Marconi, que pode ser considerado um dos maiores gênios da Humanidade, um homem de calibre igual ao de Thomas Alva Edison, o inventor da lâmpada elétrica, do fonógrafo e de tantas outras inovações que revolucionaram o final do século XIX e o começo do século XX.

Nascido em 1874, em Bolonha, na Itália, ele não só desenvolveu o método de transmissão de rádio a longa distância, como também foi o inventor dos primeiros aparelhos de rádio-transmissão e rádio-recepção práticos e modernos. Em 1895, utilizando os princípios de geração e transmissão de ondas de rádio descobertas oito anos antes pelo cientista alemão Heinrich Hertz (em cuja homenagem as ondas de rádio são também chamadas de hertzianas, e com uma unidade de medida de freqüência em hertz, ou ciclos por segundo), ele conseguiu construir aparelhos capazes de se comunicarem à distância de 2 km, aproximadamente, na fazenda de sua família, em Pontecchio.

Ele explorou rapidamente as conseqüências de sua invenção: em 1896 ele a patenteou, em 1897 montou uma empresa na Inglaterra, a Marconi Co. (que existe até hoje), e em 1898 instalou a primeira estação de rádio comercial, na ilha de Wight, bem como a primeira fábrica de aparelhos de rádio, em Chelmford. Em 1899 ele instalou transmissores de rádio em navios de guerra britânicos, fez a primeira transmissão entre dois países (entre a Inglaterra e a França, através do Canal da Mancha), e levou triunfantemente sua invenção para os EUA. Entre suas façanhas científicas figuram a invenção da radionavegação por micro-ondas, e a previsão teórica do radar para detecção a distância (em 1922).

Em 1909, sem nunca ter feito um curso superior, Marconi recebeu o prêmio Nobel de Física. Quando faleceu, em 1937, o mundo todo estava interligado pelas ondas de rádio e uma nova era das telecomunicações tinha sido iniciada.

Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 14/12/2001 .

Autor: Renato Sabbatini Email: sabbatin@nib.unicamp.br


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